terça-feira, 15 de abril de 2008

Uma obra baseada em correspondências escritas e trocadas pelos poetas franceses, Rimbaud e Verlaine.

O texto "Pólvora e Poesia" tem uma peculiaridade na sua essência: poesia, cartas e referências biográficas fazem a espinha dorsal da obra. Uma dessas espinhas que conduz a história vem a ser as cartas escritas pelos poetas durante o tempo de relacionamento intenso. São documentos que testemunham a relação conturbada, apaixonada e inconseqüente desses gênios da literatura francesa do final do século XIX. Leia agora uma dessas cartas:

Carta de Rimbaud à Verlaine, 4 de Julho de 1873

Volte, volte, caro amigo, único amigo, volte. Eu juro que serei bondoso. Se eu fui rabugento contigo, foi uma piada que insisti em continuar; eu me arrependo disso mais do que pode ser dito. Volte, isso será logo esquecido. Que pena você ter acreditado naquela piada. Por dois dias eu não parei de chorar. Volte. Tenha coragem, caro amigo. Nada está perdido. Você têm apenas que fazer a jornada de volta. Nós viveremos aqui de novo, muito corajosamente, muito pacientemente.Oh! Eu te imploro! Além disso, é para o seu bem. Volte, você encontrará todas as suas coisas aqui. Eu espero que você perceba agora que não houve nada de verdadeiro em nossa briga, aquele momento horrível. Mas você, quando eu te fiz um sinal para descer do bote, por que não veio? Nós moramos juntos por dois anos para chegar naquele momento? O que você quer que eu faça! Se você não quer voltar, quer que eu me junte a você onde você está?Sim, sou eu quem estava errado.Oh, você não vai me perdoar, vai?Não, você não pode me esquecer.Eu, eu sempre terei você aqui.Me diga, responda ao seu amigo, nós não devemos mais morar juntos? Tenha coragem. Me responda rapidamente. Eu não posso ficar aqui mais. Ouça ao seu bom coração. Rápido, me diga se eu devo ir até você. Seu para toda a vida.

Rimbaud

Responda, rapidemante, eu não posso ficar aqui depois de segunda de manhã. Eu ainda não tenho um centavo, eu não posso enviar isto. Eu dei a Vermersch seus livros e manuscritos para serem cuidados.Seu não devo ver você de novo, eu devo me alistar na marinha ou no exército. Oh, volte! A toda hora estou chorando de novo. Diga-me para te encontrar, me diga, me envie um telegrama. Eu devo ir na segunda-feira à noite, aonde você está indo? O que você quer que eu faça?

(Rimbaud não postou sua carta porque recebeu a de Verlaine no sábado de manhã. Ele está levando sua carta de novo e continuando a escrevê-la.)

Referência:
RIMBAUD, Arthur. Correspondência de Rimbaud: cartas da África: correspondência com Verlaine: agonia em Marselha. Porto Alegre: L&PM, 1991. Tradução: Alexandre Ribondi.

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